
O dia em que precisei entrar na Justiça para garantir os direitos da minha filha
Escrevo hoje não apenas como advogado, mas como pai. O dia em que precisei entrar na Justiça para garantir o tratamento da minha filha foi o dia em que compreendi, de forma ainda mais profunda, a dor e a indignação de tantas famílias que me procuram em meu escritório.
Minha vivência não é distante da realidade que relato. Meu pai é autista. Meu irmão é autista. Eu também sou autista. E, quando chegou a vez da minha filha, percebi que a luta é, de fato, coletiva: milhares de famílias enfrentam barreiras diárias para que seus filhos tenham acesso a algo básico — saúde e dignidade.
O descaso é imenso. O Sistema Único de Saúde (SUS) não dispõe de políticas públicas eficazes e estruturadas para o atendimento de crianças neurodivergentes — sejam autistas, com TDAH, síndrome de Tourette ou outras condições. Não existe um plano de atendimento abrangente e contínuo. Isso faz com que, inevitavelmente, as famílias precisem recorrer aos planos de saúde privados para garantir a quantidade de terapias multiprofissionais indispensáveis ao desenvolvimento das crianças.
E aí surge um paradoxo cruel: os planos de saúde recebem, mês a mês, as mensalidades que jamais deixam de cobrar. Entretanto, quando os pais solicitam a liberação das guias de tratamento, enfrentam negativas, atrasos, discussões intermináveis e, muitas vezes, a inexistência de rede credenciada especializada. Ainda assim, caso o pai ou a mãe deixe de pagar um único mês, a operadora não hesita em cancelar o contrato.
Essa realidade é revoltante. É uma afronta ao princípio da dignidade humana e ao direito fundamental à saúde. Por isso, compreendo de perto a indignação de cada família que chega até mim em busca de auxílio jurídico. Porque eu também precisei enfrentar essa luta.
Hoje, como advogado especializado na defesa dos direitos de pessoas autistas, neurodivergentes e também no direito previdenciário, coloco minha experiência pessoal e profissional a serviço das famílias. Não apenas para assegurar o cumprimento da lei, mas para que cada pai e mãe saiba que não está sozinho nessa batalha.
Deixo aqui minha solidariedade a todos que passam pelo mesmo caminho. A luta é árdua, mas não é impossível. A Justiça existe para ser acionada, e quando unimos nossas vozes, conseguimos transformar indignação em direitos efetivados.
